REVELAÇÃO


Francisco Perna Filho








Teus olhos infindos

peregrinam versos nas bibliotecas,

traspassando todo o concreto com o qual me visto.

Desnudo, sou pura memória.

Memória primordial.

Vejo as figuras formadas à sombra dos pés-de-lima:

Cavaleiros, viajantes, lavadeiras,

homens simples.

As sombras que imóveis me animam

compõem esta fantasia.

São seres noturnos

que se revelam na luz.

Sombras de engenho,

do todo,

de arte,

de partes,

de quem parte sem sombras de dúvidas,

deixando um vazio de sombras:

de memória perdida,

de palavra não dita

no aturdimento dos amores.

Sombras que pesam,

de pedras,

na mais pesada palavra.

Dos mitos,

do mítico,

que perseguem os meus contemporâneos.

Sombras transformadas,

que assombram teus olhos,

atentos e profundos.

Olhos de sombras

que me iluminam.

In. Refeição. Goiânia: Kelps, 2001, P.25-26.

Imagem by Francisco Perna Filho - óleo sobre tela.

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