Hermann Hesse - Poema

Hermann Hesse



(...)





Na poesia como na prosa, Hermann Hesse, suíço (1877-1962) de língua alemã (Prêmio Nobel em 1946), mostrou-se permanentemente preocupado com a busca de um sentido para a vida, levando-o essa busca a preferir a solidão, longe das aglomerações urbanas que lhe eram penosas de suportar. Poesia e prosa parecem ter andado sempre de mãos dadas, em toda a existência de Hermann Hesse - que se dizia, ele mesmo, um poeta das nuvens, sem raízes e sem pátria-lar: a ausência da pátria-lar (Heimat) é uma constante na obra desse auto-condenado ao degredo perpétuo no mundo dos homens. (...)
Geir Campos



Perdimento



Sonâmbulo tateio entre bosque e barranco,
há um halo de magia aceso ao meu redor:
sem reparar se sou bem aceito ou maldito,
sigo à risca o meu próprio mandato interior.

Quantas vezes veio chamar-me a realidade
em que vós existis, para me comandar!
Dentro dela eu ficava assustado e sem forças,
e logo descobria um jeito de escapar.

Ao meu país ardente, do qual me privais,
ao meu sonho de amor, do qual me sacudis,
como as águas retornam sempre para o mar
também meu ser retorna usando mil ardis.

Amigas fontes guiam-me com seu cantar,
aves de sonho as plumas de luz a ruflar:
de novo faz-se ouvir o som da minha infância
- em áurea rede, ao doce zumbir das abelhas,
junto de minha mãe volto enfim a me achar.



In. Andares - Antologia poética. Hermann Hesse. 2ª ed., Trad.: Geir Campos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,s/d p.108.
Imagem: Ancoradouro

Um comentário:

  1. Estamos sempre assim, nos confrontando com o que é o que de bom já tivemos e acabamos quase sempre no colo da mãe.
    Gostei muito desse poema.
    beijo

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