Hércules Ribeiro Martins - Poema



              hemisférios



              existia uma face

              que comigo vivia

              ostentava, fingia

              e bebia demais


              por trás

              doutra face

              apartada

              (que era minha face, também hemisfério,

              do homem sério que sou demais)

              voltada às coisas

              que a incoerência faz


              o mundo e as guerras, a fome, a sede

              eu numa face que bebia demais


              só que a noite tirou-me o sono

              e no hemisfério do abandono

              que minha outra face

              desfaleceu e refletiu

              esse mundo que verdades esconde demais


              temi que esta face

              tomasse a outra face

              e eu passasse a viver

              de disfarces demais

              minhas histórias



              quando as conto desconto as reticências

              e me abrevio

              porque somente entende a mesma coisa

              quem coisa igual se revelou


              e é bom que eu veja neste instante

              o quanto viajante ainda sou

              desmontando a tenda, resumindo a lenda

              cantando o estribilho

              que volta sempre

              ao mesmo lado que nem sei se estou


              é duro arder na onda infiel dos dias

              tramar fazer interessar as cenas

              ratificar, se desculpar, rever-se

              nos mesmos fiascos das

              razões pequenas


              tiveram todos os mesmos dilemas

              sofreram o tanto ou mais que as pequenas razões

              destas pequenas glórias


              e todos não vivem a repetir memórias

              repisar as delusões e o engodo

              de reprisar sempre as mesmas histórias


          • Imagem retirada da Internet: uma parte

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