Valdivino Braz - Poema

OS DESAMORADOS



Penso na mulher que amei

com o meu amor distanciado.

O tempo e a distância fizeram-nos frios,

mesmo quando juntos,

com os abraços do constrangimento.


Ah, foram difíceis nossos abraços,

carentes, mas desamorados!

Incômoda a compaixão por uma estranha

que me deixava, em seus braços, deslocado.


E assim minha mãe se foi embora deste mundo,

sem que eu aprendesse a amá-la como devia,

nem nunca me sentir por ela amado.

Ó mãe, amamo-nos ao nosso modo,

um do outro que fomos sempre separados?


Muito me bateram na vida,

menos minha mãe com suas mãos ausentes.

Minha mãe completamente

analfabeta e falta de filhos;

pariu quatro — eu vazio dela,

falto me fiz.


Foi ao morrer que ela me bateu pela única vez.

Foi.

E quem disse que palmada de mãe não dói?

——

Poema extraído do livro Arabescos num chão de giz — Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos (Goiânia, 1988); Menção Honrosa, sob o título Cantos do Carbono, na 1ª Bienal Ímpar de Poesia Estância Itanhangá (Goiânia, 1987/1988).


Imagem retirada da Internet: mãe

4 comentários:

  1. Magnífico poema, Braz! Uma surra e tanto de beleza poética. Amores filiais, nem sempre apaziguados...

    Grande abraço.

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  2. Você por aqui, Cidalmeida! Poeta que você também é, e seus, uns versos de cristal. Grato pelo comentário. Abraço.
    Braz

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  3. Coisa boa seu blog, eu, sem querer, ou melhor, em busca de idéia para capa de um livro meu cheguei ao Banzeiro - a poesia em movimento. Tudo a ver comigo suas letras. Essa internet é mesmo supreendente. Adorei tudo que li, Braz.
    Ah, sobre a foto "pegadas de mulher" eu pedi no Google. Vou add vc em meus sites favoritos agora!

    Meu abraço
    Cássia Nascimento
    htt://entrecontos.zip.net

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