José Luis Tavares (Cabo Verde) - Poema


Lição de urbanismo


Uma cidade é essa intérmina ameaça
de luzes, mesmo quando um véu de
névoa tolhe os horizontes que uma
infância baldia soldou ao sangue

— cosa mentale, certamente,
onde um rio grita de ausência
para as bandas do sol-posto.

O amor de passagem dá guarida
em sujos quartos acidentais.
Por vezes, um sadio rumor vegetal
nos recorda os antigos estivais quintais.

Nela quase tudo é anônimo; embora,
outrora, um simples sulco no chão
do fundador constituísse a assinatura.

Feérica paisagem, colori-la com demão,
é ofício de prosa obesa; da cidade mostrar
a agudeza e a simetria, requer poesia chã.

Imagem retirada da Internet: Somos Andando
Fonte: Antônio Miranda

Um comentário:

  1. Interessante a brincadeira com as palavras no último parágrafo (verso).

    Bons textos requer bons leitores. Corramos atrás disto (ler um bom leitor).

    Bom texto.

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