Tâmara Filgueiras - Ensaio Crítico

Obra poética “Visgo ilusório” será lançada em Palmas no próximo dia 27

24/05/10 11:50 - Thâmara Filgueiras


Rodolfo Ward

Livro Visgo Ilusório, que já foi lançado em Goiânia, terá solenidade em Palmas, no próximo dia 27
Livro Visgo Ilusório, que já foi lançado em Goiânia, terá solenidade em Palmas, no próximo dia 27
Depois de contemplar os leitores goianos, o escritor e professor do curso de Letras da Unitins – Fundação Universidade do Tocantins, Francisco Perna Filho, se prepara para lançar sua quarta obra, Visgo ilusório, em Palmas. A solenidade acontecerá no próximo dia 27, na cantina Boa Massa (602 Sul, Av. LO 13, Lote 17). A obra faz parte da coletânea Goiânia em prosa e verso, uma parceria entre a prefeitura da capital goiana, a editora Kelps e a Universidade Católica de Goiás.

Visgo ilusório trata da luta diária pelo verbo preciso. “A palavra é uma convenção humana e, de uma certa maneira, ela é arbitrária. Então, o vínculo que há entre a coisa que nomeia e o ser nomeado é muito difusa e às vezes a palavra não consegue expressar aquilo que você quer dizer ou representar”, argumentou o escritor.

O autor também faz uma relação com uma antiga brincadeira de crianças, que aprisionavam pássaros usando visgo feito a base de jaca ou outros materiais. Esta analogia pode ser vista no poemaPor um sono, que trata do visgo ilusório da palavra que, segundo explica Perna Filho, “para criar essas imagens poéticas, para traduzir o mundo, o poeta luta com as palavras para tentar traduzir essa realidade que ele vê. E nem sempre consegue, mas ele usa as palavras que mais se aproximam. Então a gente tem a ilusão de que aquilo está sendo representado pela palavra”, explicou.

A obra divide-se em cinco partes, que são compostas por poesias escritas a partir da invasão dos Estados Unidos ao Iraque até quando se propalou que o etanol seria a grande saída para o Brasil e muitos proprietários de terras começaram a arrendá-las com esse fim. “Eu começo com O olhar, em que eu trago poesias da minha infância, do meu pai, uma autobiografia. Depois tem O voo, onde eu falo da poesia e do ofício do poeta. O mergulho é um trabalho mais voltado para o sentimento mesmo. O revoo onde eu trago oAboio, que fala das fazendas que foram vendidas para plantação de cana para produção de etanol, e Concerto para violino, que fala do maestro russo Serguei Diatchenko, que se matou aos 64 anos. Por fim, tem O visgo, que fala das cenas urbanas, do aglomerado de pessoas”, descreveu o escritor.


Francisco Perna Filho
Nasceu em Miracema do Tocantins, onde teve os primeiros contatos com a literatura. É mestre em Letras e Linguística – estudos literários, pela Universidade Federal de Goiás. Tem três livros publicados: Refeição, de poesia, lançado em 2001 pela editora Kelps; As mobílias da tarde, poesia, publicado pela Perna e Leite Editores, em 2006; e Criação e vanguarda: Bopp e Barros, crítica literária publicada pelo projeto Goiânia em prosa e verso, em 2008.


Delermando Vieira - Ensaio Crítico




Mobiliário poético


De um verdor de faias e sombras incontáveis
A plena e fácil voz celebra o verão.
John Keats








DELERMANDO VIEIRA*




A poesia em Francisco Perna Filho, poeta telúrico, cônscio de seu laborar poético, recende a grãos de terra esmiuçados ao vento das águas da chuva acendendo, nos dias, o espírito dos homens, sob o que tange e locupleta o fôlego, a estética e sabedoria das horas, em sua essência e memória humanística.

Força que assopra e sopesa, na forja do tempo, a leveza do que, ao fundo, medra a mais simples sensibilidade em seu caminho, assim é a sua poesia, tão farta de flashes e nuanças próprias de quem, no passado, viu e viveu a sustância das causas terrenas, num espaço de época longínqua, cuja natureza se esplende ao susto do amor legado, na infância, àqueles que a bem de sua vida sabem, e souberam, como nunca, construir em seu destino os valores de um eterno existir, ainda que efêmera seja, ou fosse, a sua passagem por este mundo.

Profundamente ligada às raízes da sensibilidade, atendo-se, inclusive, aos claros labirintos do dizer-se pleno, assim é a poesia deste poeta, ora chegando, ora se fazendo, dentro de sua vasta particularidade de erguer a grande poesia, sem, contudo, deixar-se conduzir pela vã e medíocre vulgaridade, que certos poetas de hoje defendem, sob o pretexto de que estão construindo uma poesia aberta, comum e viável à compreensão do povo.

A poesia edificada por Francisco Perna Filho em seu belo livro, As Mobílias da Tarde, é, sem dúvida, simples, porém humana, carregada de uma serenidade e grandeza de quem já viveu, e vive, o íntimo testemunho dos fatos legados àqueles que, tão-somente, se propõem a memorar em si todo o cenário e riqueza de seu passado, quando, então, pelas raias da infância laboravam o seu cotidiano untado de sublime natureza. Seguro em suas palavras, Francisco Perna Filho, ou naturalmente, Chico Perna, aqui poeta autêntico, se faz sensível e tocante, ante a clareza de suas idéias se fazendo necessárias, ao poético intento de levar a todos o seu anunciado, ou seja, a forma mais pura de sua poesia erguida sob o crisol de uma razão precisa, finalmente realizada em seu motivo maior: a sínese do silêncio em aguda sensibilidade.

Leve, como leve é o espírito das coisas se prontificando, se traduzindo, à sua mesma natureza de soerguer, na paisagem das horas, o sentido do belo em sua estóica essência, sem, no entanto, descer forçosamente à frágil intenção da mesmice, assim é a poesia deste poeta; e sua força, por certo, traduz-se no espelho de sua natureza terrena, como se fosse de seu hausto a franqueza maior de inspirar e expirar a sabedoria, mais simples e possível, ao cognoscível sentimento das gentes, do mundo mergulhado em suas imagens proliferando cenários de rios, estradas, cidades e lugares de ermo fazer-se em profunda memória. Como vislumbres poéticos arraigados na alma, aqui, neste As Mobílias da Tarde, a poesia se constrói, se sustenta, ao conduzir-se clara e direta em seus versos. Chico Perna, poeta antenado que é, soube, como poucos, relatar os fatos do passado, revelando-os numa sabedoria de admirável sutileza e, por isso mesmo, edificada em sintonia agradável, sem peso algum, que a possa tachar de frágil e simplória.

As Mobílias da Tarde, editora Perna e Leite, 105 páginas, capa de M. Cavalcanti, editado em 2006, traz em sua estrutura a forte memória do que, em suma, minera o espírito do homem, às suas mesmas e profundas raízes e costumes, ao escopo do ser e sua lúdica visão, tão inerente àqueles que, fatalmente, se ressentem, se tocam e se sensibilizam, às lembranças dos dias idos, viajados para nunca mais, quando na velha infância, quando na súbita juventude dos olhos, já gastos, envelhecidos em sua demora, no seu fim de ser já nascido para outro mundo, que não o de hoje, que não o de agora, mas, sim, como o de ontem, que no amanhã, certamente, far-se-á, feito um chamado de Francisca a seu filho, então chegando do rio.

Versos, como “Foi quando ela aprendeu sobre a vida e a morte, acompanhou as estações do ano, a gestação do rio, entusiasmada com a possibilidade de romper o próprio leito”, A Infância, pág. 33; ou, então, “A cidade é vista sob a neblina difusa. Há um desejo de vê-la cada vez mais de perto. Ela é vária e, diluída, ensina um olhar de milhas que não se perde em mim”, A Infância, pág. 51, e, ainda, “O rádio não existe mais, desfez-se no rio dos anos. Hoje, ouço os velhos telhados antecipando o barulho dos galos, os inconsoláveis soldados da noite”, Gênesis, uma visão lúdica, pág. 81, subentendem-se, ou melhor, explicitam-se, dentro de sua anuência inerente à imantada ternura de uma imagética singular, coerente e possível, àqueles de sentimento sincero, honesto como a luz do dia. Versos estes, sim, que em seu estar coevo, expõem, como nunca, o estigma daqueles que em verdade se sabem, tantas vezes, vivendo sua mesma e única essência de viver o que passou, sem, no entanto, coerirem-se à estúpida e forjada mentira de nutrir-se de sentimentos jamais tocados, nunca sentidos. Como a preciosa pedra esquecida no sequitel, versos como “O orvalho nas folhas da erva-cidreira, fumaça subindo da chaminé, rangido de carros-de-boi e a menina com o rosto refletido na água da cisterna”, Gênesis, uma visão lúdica, pág. 29, refletem em si o fôlego de memorável simplicidade que, de certa forma, levam a um traduzir-se à plena natureza, feito fosse sua estrutura, nada mais, nada menos, que um vilancete, uma espécie, assim, de revelação madura, própria e eficaz, sem dúvida, ao coração do ser, do súbito mundo de cada um. Eu, que não sou nada, e nada mais posso ser, senão o que sou, faço-me de pleno e de direito ao dizer, e afirmar, se preciso, que Francisco Perna Filho, possui em sua fala poética longos sinais e reflexos, que lembram, sutilmente, a verve poética de Walt Whitman, ou, talvez, de John Keats, ainda que em sua retórica verbal, concisa e perfeitamente cingida aos dias de hoje. Francisco Perna Filho, sem medo de dizer, é, em suma, um poeta verdadeiro.



Este texto foi originalmente publicado no Jornal Opção, de Goiânia, em 15/06/2007
Delermando Vieira é escritor e Membro a Academia Goiana de Letras.

Brasigóis Felício - Literatura Goiana: um panorama

Literatura goiana – um panorama histórico


Por Brasigóis Felício *


Uma síntese da literatura goiana (ou da literatura brasileira feita em Goiás, como muitos preferem) para ser justa, tem de começar pelo reconhecimento, sem ranço de ufanismo, da expressividade e qualidade do que aqui se escreve e publica. Tal fato é reconhecido por críticos de nomeada, de grandes centros culturais – não obstante o nariz arrebitado de jactância e vanglória, de alguns intelectuais, encastelados nas torres de marfim até de universidades públicas – os quais insistem em amesquinhar sua importância, e não reconhecer tal qualidade. Tal provincianismo, porém, não conseguiu impedir que se firmassem como escritores de prestígio nacional, e mesmo internacional, escritores como Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Elis, José J. Veiga e Cora Coralina.


Hugo de Carvalho Ramos


Depois de quase um século do descobrimento (ou achamento) das minas auríferas na região onde os bandeirantes paulistas construiriam Vila Boa, quase nada se escreveu por estas paragens do Goyaz profundo, a não ser os depoimentos de viajantes que andaram pela província, deixando relatos importantes, como os deixados por Cunha Mattos e Alencastre. De cunha Mattos até hoje se impõe, por sua verdade e atualidade, uma frase de sabor picante: “Em Goyaz as pessoas batem mais com a língua do que com as armas”. Gilberto Mendonça Teles, poeta, professor e crítico literário, assinala, em sua importante obra A poesia em Goiás, que a história de nossa literatura se divide em seis períodos. O primeiro coincide com o descobrimento de Goiás até 1830, quando publica-se o primeiro jornal da província, A matutina Meiapontense.

Gilberto Mendonça Teles

Em obra intitulada “Literatura goiana – síntese histórica”, que escreveu quando proferiu palestra sobre literatura goiana, no Canadá, o acadêmico Geraldo Coelho Vaz atesta que o primeiro poeta brasileiro a se referir a Goiás usava o pseudônimo de Antonio Cordovil. Seu verdadeiro nome era Antônio Lopes da Cruz, que escreveu o Ditirambo às ninfas goianas – em verdade, usou as musas e ninfas como pretexto para bajular o governador Tristão da Cunha Menezes, que o nomeara como professor. Uma moda que pegou entre nós, entre escribas maiores e menores.

O segundo período vai de 1830 a 1903, da publicação do primeiro jornal goiano à instalação da Academia de Direito de Goiás, e a fundação da Academia de Letras, na cidade de Goiás, sede da capital da Província. “Em quase um século, muitos acontecimentos marcaram a vida cultural do Estado. Ainda no século XIX, foram criados o Liceu de Goiás e a primeira biblioteca pública, o Gabinete Literário Goiano, o Teatro São Joaquim, o seminário Santa Cruz, onde se formaram notáveis personalidades da vida cultural de nosso Estado. Bernardo Guimarães, importante romancista, reside em Catalão, na condição de Juiz de Direito nomeado.

O primeiro livro impresso, já em 1863, foi Viagem ao rio Araguaia, de autoria de Couto Magalhães, então governador. O vulto literário mais importante desta época é o poeta romântico Antônio Félix de Bulhões Jardim (1845-1887), que defendia ideais abolicionistas. Outros nomes importantes do período foram os poetas Higino Rodrigues (1869-1906), autor do famoso soneto A pinta preta, Manoel Lopes de Carvalho Ramos (1865-1911), autor do célebre poema Goyania, e mais Edmundo Xavier de Barros, Alceu Victor Rodrigues, Genuíno Correa, Matias da Gama e Silva e Augusto Eliseu.

Antônio Félix de Bulhões Jardim


O terceiro período da evolução histórica de Goiás, assinala Coelho Vaz – inicia-se com a instalação do curso da Academia de Direito, a fundação da Academia de Letras e a revolução de 1030. A publicação do livro Ontem, de Leo Lynce, marca o surgimento do modernismo em Goiás, com atraso de seis anos, em relação à Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922. O mais expressivo e talentoso autor deste período foi, inegavelmente, Hugo de Carvalho Ramos, autor de Tropas e boiadas.

Em estilo regionalista que provocou impacto, logo após sua publicação, este autor goiano mereceu saudação entusiástica, por parte de Monteiro Lobato, e de outros escritores e críticos de sua época. Reconhecido como gênio literário, por parte da crítica, Hugo de Carvalho Ramos não conheceu a glória literária, pois que matou-se, ainda muito jovem, em meio a uma crise de depressão. Os nomes que marcaram este período foram, portanto, Hugo de Carvalho Ramos, com Tropas e boiadas e, na poesia, Leo Lynce, com Ontem, título contraditório, pois que colocava a longínqua paisagem do sertão profundo de Goiás no cenário da modernidade literária brasileira.

O quarto período é a fase da transição literária, encontrando as mais variadas influências das escolas romântica, parnasiana, simbolista e moderna. É o período das grandes mudanças, enfatiza Gilberto Mendonça Teles, em A poesia em Goiás. Neste período vêm à publicação obras de João Accioly Barro preto, Derval de Castro páginas do meu sertão e Pedro Gomes, com Pito aceso. A poesia teve reduzida importância nesta fase. O quinto período, para GMT, inicia-se em 1942, com o Batismo Cultural de Goiânia, e a publicação da revista Oeste, indo até a realização, pela União Brasileira de Escritores de Goiás, da I Semana de Arte em Goiás, realizada em 1956.

Bernardo Elis


Fato de grande importância foi a criação da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, que teve Bernardo Elis como seu primeiro ganhador, com a obra Ermos e gerais. Em 1954, realizou-se em Goiânia o I Congresso Nacional de intelectuais, com a presença de personalidades conhecidas, de outros países, como o poeta Pablo Neruda. Lamentavelmente, Gilberto Mendonça Teles não atualizou seu livro A poesia em Goiás, quando da publicação de sua segunda edição, deixando assim de registrar um número expressivo de poetas, surgidos a partir de 1970. Muitos deles ganharam concursos de nível nacional e mesmo internacional, firmaram-se como grandes poetas, mas não estão referidos na segunda edição desta obra, o que diminui sua importância histórica.

José Godoy Garcia

A implantação do modernismo literário brasileiro, iniciada com Leo Lynce, teve continuidade com as obras de Bernardo Elis, José Décio Filho, José Godoy Garcia, Afonso e Domingos Félix de Sousa, além do próprio Gilberto Mendonça Teles, um pouco mais tarde, como poeta e crítico de literatura. Uma de suas obras fundamentais é A poesia em Goiás, além de Saciologia goiana (poesia) e obras de referência, no gênero ensaio, estudando os manifestos da modernidade literária, e a poesia de Carlos Drummond de Andrade. Neste período destacaram-se também o romancista e contista Eli Brasiliense, com “Chão vermelho” e “Pium”. Bariano Ortêncio estreou em 1956, com O que foi pelo sertão. Ficcionista, cronista e folclorista, Bariani Ortêncio é uma das mais destacadas personalidades literárias de Goiás.

Eli Brasiliense


Marcam ainda este período autores como Ursulino Leão, romancista, contista e cronista, sendo o romance Maya um de seus trabalhos mais aplaudidos. Outros autores também destacaram-se, como Pedro Celestino, Geraldo Ramos Jubé, Monsenhor Primo Vieira, José Lopes Rodrigues, Demóstenes Cristino, Basileu Toledo França, Regina Lacerda, Rosarita Fleury, Nelly Alves de Almeida, Jesus Barros Boquady, Getúlio Vaz, Mário Rizério Leite, Leo Godoy Otero e Ada Curado.

Yêda Schmaltz


O sexto período da evolução de nossa literatura está em curso, em meio a grandes transformações em nosso meio sócio-econômico-cultural. A criação de duas universidades, e a Federal e a Católica (PUC), a fundação de Brasília, em 1960, representaram uma mudança no ambiente cultural. Surgiu o GEN (Grupo de Escritores Novos), propondo uma instauração estética intitulada de Práxis, por seu criador, o poeta Mário Chamie. Pontificaram neste movimento literário goiano escritores que viriam a se tornar representativos de nossa literatura, como Miguel Jorge, Heleno Godoy, Yêda Schmaltz, Carlos Fernando Magalhães, Luiz Araújo, Luiz Fernando Valadares e Geraldo Coelho Vaz.

Heleno Godoy


A Editora Oriente, liderada pelos irmãos Taylor e José Oriente, publica centenas de títulos de autores novos e já consagrados. Surgem, neste período, nomes como Gabriel Nascente, Alaor Barbosa, Maria Helena Chein, Emílio Vieira, Eduardo Jordão, Ciro Palmerston, Marieta Telles Machado, Martiniano J. Silva, Brasigóis Felício, Delermando Vieira, Dionísio Pereira Machado, Salomão Sousa, Helvécio Goulart, Luiz de Aquino, Edival Lourenço, Helverton Baiano, Almáquio Bastos, Ubirajara Galli, Tagore Biram, Pio Vargas, Itamar Pires, Edir Meireles,Fausto Valle, Jaci Siqueira, Alice Spíndola,Ana Cárita, Diva Goulart, Kleber Adorno, Lygia Rassi, Ebert Vêncio, Celso Cláudio, Augusta Faro, Leda Selma, Maria Abadia Silva, Pedro Tierra, Edmar Guimarães e Valdivino Braz.

Da esquerda para direita: Delermando Vieira, Valdivino Braz e Salomão Sousa


O Gen deu significativa contribuição à renovação e modernidade dos estilos literários, como assinalou a ensaísta Moema de Castro e Silva Olival, em seu livro Gen – um sopro de renovação em Goiás – editora Kelps 2000): “Foi, sem dúvida, um divisor de águas na vida literária de Goiás, um vento promissor: conhecer, discutir, confrontar para renovar.” Uma renovação colocada em xeque, pelo ensaísta Gilberto Mendonça Teles, que via no movimento de renovação praxista em Goiás um entusiasmo juvenil, sem consistência e maturidade. O tempo veio provar que o alarde feito em torno da dita “instauração práxis” era fogo fátuo (fogo de palha) de vez que os nomes do Gen, que vieram a se confirmar como nomes expressivos, deram, sim, uma contribuição notável, por sua participação no debate literário, mas as obras que escreveram posteriormente têm (felizmente) pouco ou nada a ver com a hermética proposta estética defendida por Mário Chamie. A confirmação como escritores veio de seu talento literário, não dos postulados estéticos defendidos com ruído e furor.

Cora Coralina

A criação da Fundação Cultural Pedro Ludovico, em substituição à Secretaria Estadual de Cultura deu maior impulso à literatura, com o Instituto Goiano do Livro, dirigido pela poetisa Yêda Schmaltz, criando coleções importantes, e instituindo concursos e oficinas literárias. A editora Kelps inicia intensa atividade editorial, publicando centenas de títulos de autores goianos, divulgando-os nas Bienais do livro, realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na crítica literária destacam-se Gilberto Mendonça Teles, José Fernandes, Moema de Castro e Silva Olival, Maria Zaira Turchi, Vera Maria Tietzman e Darcy França Denófrio, dentre outros. Com três nomes consagrados, Bernardo Elis, José J. Veiga e Cora Coralina (sendo os dois últimos em nível internacional) Goiás tem notáveis personalidades na literatura, a exemplo de Paulo Nunes Batista, Valdemes Menezes, Braz José Coelho, Antônio José de Moura, William Agel de Mello, Gil Perini, Hilda Gomes Dutra Magalhães, Helena Sebba, Ercília Eckel, Adelice da Silveira Barros, Luiz Estevão, Francisco de Brito, Isócrates de Oliveira, Célia Coutinho Seixo de Brito, Anatole Ramos, César Baiochi, Hélio Rocha, Maria Terezinha Martins, Carmo Bernardes e Francisco Perna Filho.

José J. Veiga


* Brasigóis Felício é membro da Academia Goiana de Letras (cadeira 25) e vice-presidente da Ube-go (União Brasileira de Escritores, Seção de Goiás)


Imagens retiradas da Internet: todos os Direitos reservados

Antônio Lisboa - Ensaio Crítico




O livro infernal do poeta Valdivino


Por Antônio Lisboa


Literatura feita para chocar. Assim poderia ser sintetizado o mais novo livro do poeta e jornalista Valdivino Braz.

Logo no prefácio o autor adverte: “Presume-se que O Gado de Deus, um livro infernal, escabroso, com personagens infames – a par com os laivos poéticos, filosóficos e divertidos -, possui autonomia para sustentar-se à parte. (...) O leitor esteja preparado. Esta obra é um tratamento de choque, de arrepiar os cabelos e deixar os incautos com cara de ouriço. Exala enxofre, fumega chifre queimado. O riso se transforma em choro e ranger de dentes. Não há, em todo o mundo, um livro como este”.


"...Só o homem livre é pastor de si mesmo, toda e única liberdade é foro íntimo...”


Com o título inicial de As dores da terra antiga, a obra recebeu Menção Honrosa no Concurso Nacional de Romances do Paraná, em 1993.

Saído das oficinas da Editora Kelps e compondo a “Coleção Goiânia em Prosa e Verso”, da Secretaria Municipal da Cultura de Goiânia, O Gado de Deus é, em essência, uma crítica mordaz às infâmias e mazelas produzidas pelo governo militar que tomou o poder no Brasil, em 1964.

Como o próprio autor define, trata-se de um relato corrosivo que expõe por inteiro o lado sórdido da vida.

Na mítica e ao mesmo tempo arena realista em que a trama se desenrola, o Brasil é visto simplesmente como “Pátria”. Nesse palco, desfilam os mais infames personagens e suas vítimas, como “o general, mandando prender e arrebentar, que é hora de tanger o gado ao matadouro”, numa referência ao general João Figueiredo, o último presidente do período militar.

Com uma linguagem poético-filosófica de tom mordaz, o texto de Valdivino Braz refere-se aos agentes da ditadura como “os homens com cabeça de cabaça”.

Marcadamente imagética, a narrativa derrama-se por uma dialética que se embebe e galopa na sonoridade das palavras. Como no trecho: “Na meia-lua ou cutelo lunar da jornada desta vida, deparei-me com pedras tapiocanga no meio do caminho, as pedras da vida e do mundo, incrustadas no fundo de minhas retinas fatigadas, meio que assim numa fadiga fatiada, dado de sobra, a mim, o que se dá em dobro, a pedra dos rins, das torções, dos tropeços e pescoções, e foi então que me vi perdido em selva tenebrosa, sem Dante e sem Drummond...” E o texto se estende por um parágrafo de 24 linhas a fio.


“Os bancos, como Deus e o Diabo, estão por toda parte, em conciliábulos de ordem financeira e armação de arapucas para seus clientes."


Em sua narrativa herética e diabólica, Braz critica a crítica e não perdoa nem a si mesmo, quando se compara ao éter “a conduzir a narrativa deste canhestro romance antirromance”...

A crueza da existência se completa no terror da palavra. Há momentos da escrita em que o autor compõe cenas sinistras: “Abrupto e traiçoeiro, o fio de arame farpado arrebenta-se na cerca; num bote de cobra, chicoteia a cara de Brasilino, e uma farpa fura-lhe o olho esquerdo. Daí que ele, imprecando contra Deus e o mundo, larga mão do ofício de fazedor de cercas”.

Um dos momentos em que a deliberada heresia torna-se mais marcante está no capítulo “As boas-vindas da casa”: “O mundo é dos espertos e dos poderosos, e nas mãos absconsas de Deus depõem-se as almas dos crédulos, o cego rebanho de tolos, tangido com a inadimplência das promessas provindas de bocas imundas, com o bafo do esôfago, e não com o hálito da pureza, nem com o sopro divino que anima o mísero barro”.

No cotidiano de “Pátria”, entre os personagens e situações que infernizam a vida de seus pobres moradores estão, segundo Braz, as instituições bancárias. “Os bancos, como Deus e o Diabo, estão por toda parte, em conciliábulos de ordem financeira e armação de arapucas para seus clientes. Graças a Deus, diz o banqueiro C.R.Cifrão, um cretino. A César o que é de César, reprisa o fanhoso Nazareno, com diploma de contabilista e puxa-saco de gente rica; agarrado feito carrapato em bago de boi, a ver o que lucra com isso. Gentinha desprezível, sem caráter!”

O texto valdiviniano despeja pontiagudas ironias em certos trechos. Como quando situa geograficamente a “Funerária Bom Repouso”, concorrente da “Funerária Vai Com Deus” e o “Cemitério Municipal Seja Bem-Vindo ao Lar”. A escrita ri da inglória, expõe o lado podre de pobres seres e reserva momento especial para os políticos.

Ao trilhar por certa convicção atéia e niilista do autor, a escrita conversa (provoca) o leitor com o seguinte trecho: “Comunga teologia? Eu não estudo Teo, mas vasculho um pouco as coisas de Deo. Está sorrindo. Gostou? Deus é Deus, seja lá o que for, e não seja por isso ficar adulando padre ou pastor. Só o homem livre é pastor de si mesmo, toda e única liberdade é foro íntimo...”

Para o autor, a humanidade é uma doença. Quando projetava este seu O Gado de Deus, Valdivino Braz já prometia: “Antes de morrer, pelas veredas pedregosas do meu cérebro, pelas urzes do meu amargo coração, pelos espinhos de meus cardos pensamentos e pela bile que a vida me derrama aos jatos pela boca, hei de escrever um livro infernal, a grande paródia, um tratado da criatura humana, no que ela tem de pior”. Vade-retro!


Antônio Lisboa é jornalista (UFG) pós-graduado em Comunicação Pública (ESPM).

Este texto foi originalmente publicado no Jornal Diário da Manhã, de Goiânia.

Imagem retirada da Internet: Inferno

Francisco Perna Filho - Poema


Cântico do Amor Maior



Valho-me do acaso,
para ver no teu sexo,
o nexo da vida

São compridos os meus olhos
para lá das esquinas,
dos semáforos,
dos destinos.

Percorro teus trechos,
tuas curvas,
para sorver os teus frutos,
ainda tenros, quando chego;
maduros, quando findo.




In. Visgo Ilusório. Francisco Perna Filho. Goiânia: Kelps/PucGoiás/Prefeitura de Goiânia, 2009,p. 40.
Foto by Valdir Cruz

Francisco Perna Filho - Ensaio Curto


Signos em rotação

Por Francisco Perna Filho


Até bem pouco tempo, professor era aquele que professava algo, tinha o que dizer, valia-se da sua cátedra para incutir conhecimentos, semear o bem, os mais edificantes ensinamentos. Tempo de Mestres, não somente de títulos, mas de fato, e de artes, ser universal, de uma alma grande e profícuo conhecimento.

O que aconteceu com tão valioso ser? Praticamente inexiste. Sobraram poucos e esta geração quase não teve ou tem a oportunidade de conviver com um desses, uma vez que a nossa realidade acadêmica é caótica, já não comporta os grandes mestres: magister, os que aí estão, quase sempre, não passam de oportunistas de um mercado em ascensão, já que não deram certo nas suas profissões originárias, descambaram para uma área, que, à primeira vista, parece tudo acolher, daí a tragédia em que vivemos.

Se por um lado não existem mais os mestres, certamente não há razão para existência de discípulos, muito mais ainda num tempo de muita exaltação midiática e pouco aprofundamento nas questões essenciais, como pensar o outro, a solidariedade, a ética, o meio ambiente, sem falar na nossa rica e preciosa Língua Portuguesa, que de tão maltratada e vilipendiada, perdeu força e prestígio, um exemplo claro disso está nas universidades, mais especificamente nos cursos de comunicação social.

Como vemos, se não há uma valorização da Língua Portuguesa, nem mesmo nos cursos em que ela é de fundamental importância, como jornalismo e publicidade e propaganda, quem dirá nos outros cursos, onde ela “não é tão importante assim.” Mas tudo bem! Dirão uns. - Tudo isso faz parte da modernidade, vivemos na era da imagem, precisamos dominar a técnica, e acabou! Vociferarão outros. Ninguém sentirá falta da Língua, muito menos dos grandes Mestres, uma vez que não se pode sentir falta daquilo que não se conhece.

A realidade é dura e triste, mas o que me dá um dó danado é ninguém fazer nada, é deixar gente tão incompetente, sem conhecimento mínimo das questões básicas, como ensino e aprendizagem, movidos apenas pela vaidade e a ganância do mercado, passar-se por mestre, por dono do saber, conduzir pessoas, destinos, desconsiderando a própria ignorância.

Como dizem: a vida é cíclica, e, por isso, talvez, ainda venhamos, nas gerações pósteras, a reaver os mestres que se foram, reformados no ânimo e no sangue dos vindouros homens de bem, e aí, um outro ser, que também sou eu, numa crônica como esta, não lamentará ausências, mas falará de feitos e bondade, de respeito e solidariedade, tudo isso escrito em bom Português.


*Título tomado de empréstimo ao escritor Mexicano Octávio Paz.


Imagem retirada da Internet: Óculos

Lúcio Alves - Crônica



Fico feliz por te ver assim tão triste



Por Lúcio Alves



“A minha vida está se desmoronando, e as pessoas estão se divertindo muito com isto. Mas eu não perco a dignidade. Continuo trabalhando.” Li esta declaração de uma jovem atriz brasileira que anda metida numa série de problemas pessoais, fartamente explorados pela mídia. Lembrei-me do que disse o cantor e compositor John Lennon, numa fase da sua vida em que nada parecia dar certo: “Ninguém o ama quando você está por baixo e por fora”.

Não é preciso ser filósofo nem antropólogo para teorizar a respeito do viver e do fenecer. Até mesmo os crápulas, nas suas ínfimas pausas de maledicência, devem fazê-lo. John fez parte da cultura pop em sua época, deu o seu recado e nos legou boa música e mensagens humanitárias que muitos menosprezam ou insistem em não captar. Quando foi baleado na porta do Dakota Hotel, o ex-beatle pagou com a própria vida o preço pela incompreensão e pela intolerância.

Com vocação para a inveja e a crueldade, nós crescemos interessados nos revezes uns dos outros. Não foi assim na infância? Nos embates e estripulias com os vizinhos de rua? Nas disputas disfarçadas e humilhações dentro nas escolas? Zombamos do menino quatro-olhos, da menina dentuça, dos gorduchos e dos orelhas-de-abano. Insistimos nas troças até fazer chorar. Sorrimos do sofrimento alheio com semblantes apalermados, comemorando, intimamente ou de forma indisfarçável, o mal que recaía sobre terceiros. Em matéria de maldade, somos bons demais da conta.

O espetáculo da dor e do fracasso presta-se ao regozijo de muitos. Não é por acaso que as revistas que publicam os escândalos dos famosos vendem aos borbotões, enriquecendo seus editores, alvoroçando a energúmena massa. O febril interesse pelas tragédias é surpreendente, mórbido, digno da imersão de psicólogos e demais estudiosos da mente e do comportamento humanos. Para a maioria de nós é prazeroso assistir às autodestruições. Um cantor viciado. Uma atriz alcoólatra. Um pastor pedófilo. Habitantes do fundo do poço. Palhaços que somos gostamos mesmo é de ver o circo pegar fogo.

Durante a vida crescemos adestrados sob padrões e regras, a fim de nos adaptarmos à convivência social sadia e, digamos, normal. Há muitos vieses. Aprendemos a valorizar o supérfluo como se ele fora o essencial. Com aguçados cinco sentidos, reparamos em defeitos e imperfeições aos quais nos julgamos imunes. Valorizamos com tal exagero as aparências que a vida vai ficando assim superficial e sem sentido. Apegados aos bens materiais, tocamos a vida como se fosse uma viola faltando algumas cordas. O som fere os ouvidos, no entanto, acreditamos fazer um concerto e tanto.

A frivolidade e a devoção ao dinheiro são ensinadas dentro e fora dos lares, por pais ausentes e as maravilhas da tecnologia, naquele esforço colossal para suportar a desunida família e manter as aparências. Não é à toa que a filantropia é ofício de uns poucos abnegados. Gastar o próprio tempo ajudando estranhos parece pouco atrativo. Muitos, julgando-se baluartes da benevolência e do desprendimento, desprendem sim algumas moedas nas mãos miseráveis dos mendigos e pedintes que lotam as portas das igrejas e os semáforos das cidades. Entregamos as quirelas por piedade ou por medo?

Para se sentirem melhores, alguns cidadãos abonados fazem doações vultosas às entidades carentes, como se elas carecessem apenas de dinheiro. Os milionários fanfarrões, que garantem preferir o anonimato, salpicam sobre os desafortunados as migalhas de seus quinhões, ao invés de “desperdiçarem tempo” ouvindo, dando atenção sincera, ensinando, aprendendo a viver.

Nas minhas divagações de escritor, e nas incursões silenciosas de um ser vivente, eu me esforço para entender a condição humana no planeta. Tudo parece uma equação complexa e sem um fim que a justifique, aquela mesma sensação que me afligia nas aulas de física e matemática da infância. O professor, criatura boníssima das mais injustiçadas no Brasil, acabava dando uma forcinha e chegávamos a um resultado. A conta era exata e sempre fechava. Mas agora é diferente. Meu antigo professor já nem existe mais, senão em fotografias e na memória dos seus familiares, amigos e ex-alunos, como eu. Quem vai então se apiedar de mim e revelar uma valiosa dica?


Homenagem


Com a publicação desta crônica O Banzeiro Textual presta uma homenagem póstuma ao Escritor, Poeta, Jornalista, Artista Plástico e Advogado, Lúcio Alves de Lima, falecido no dia 12 de maio de 2010, em Palmas, onde era funcionário público Federal: Auditor do Trabalho. Infelizmente, só fiquei sabendo da sua passagem hoje, 18 de maio de 2010. Lúcio Alves de Lima, tradutor de "O Tambor", de Gunther Grass, publicado pela Editora Nova Fronteira, era o que podemos chamar "um sujeito genial", inteligência ímpar, capaz de discutir qualquer assunto com desenvoltura e profundidade. Lúcio era um cidadão do mundo, viveu na Europa, foi um Flanêur, frequentou rodas intelectuais, conviveu com nomes importantes da pintura e da literatura universais. Na Alemanha, cursou, por dois anos, Medicina. Mudou-se para Inglaterra, depois, para Portugal, quando escreveu para diversos Jornais. Falava cinco idiomas: Inglês, Francês, Alemão, Italiano e Espanhol. Uma alma inquieta, inconformada com as mazelas humanas, com os desmandos na administração pública; impaciente com a mediocridade que ronda o meio intelectual e artístico. A você, Caro Lúcio, o meu reconhecimento e a minha homenagem.



Foto by Jornal O Girassol

Ode de Ricardo Reis - Fernando Pessoa





















Ode


Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,

Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,

Pagã triste e com flores no regaço.


Imagem retirada da Internet: Fernando Pessoa


Emily Dickinson Por Holland Cotter - Ensaio

The New York Times
Fonte: Portal Terra -

14 de maio de 2010 15h59

Imagem retirada da Internet: Emly Dickinson

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